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Notas Arqueológicas
por Maria Fernanda Almeida
Pesquisadores da Universidade Hebraica de Jerusalém puseram fim às dúvidas sobre quem teria construído o túnel de Siloé, uma das mais interessantes obras de engenharia da Idade do Ferro. Confirmando o relato da Bíblia, as pesquisas dataram em 700 a.C. a construção do túnel de Jerusalém, e apontaram Ezequias, que reinou em Judá entre 727 a.C. e 698 a.C., como o empreiteiro.
Construído para transportar a água da fonte de Gioh, nos arredores de Jerusalém, para o interior das muralhas da cidade e garantir o abastecimento do canal, que tem meio quilômetro de extensão, teve um importância fundamental na defesa da cidade durante o cerco e a ameaça de invasão pelos assírios, no século 8 a.C.
De acordo com os textos bíblicos como o Segundo Livro dos Reis e o Segundo Livro das Crônicas, o rei Ezequias teria reaberto o templo de Salomão, restaurado a Páscoa e implementado uma série de reformas em Jerusalém, das quais o túnel de Siloé é uma das mais importantes.
A paternidade da obra, no entanto, sempre foi um mistério para historiadores e arqueólogos. No século 19, foi descoberta uma inscrição no interior do túnel que relatava todas as etapas de sua construção, mas não mencionava o nome de Ezequias. Desde então, uma das hipóteses levantadas pelos pesquisadores era de que o túnel fosse mais velho que a inscrição.
No entanto, pela tecnologia utilizada, outra linha de pesquisa defendia que Siloé havia sido escavado por volta de 200 a.C. É que os túneis da Idade do Ferro eram feitos com a ajuda de alçapões intermediários, que eram escavados separadamente da superfície e depois unidos. Siloé foi feito sem a ajuda desses alçapões. Descoberto em 1838, a obra foi construída por dois grupos de trabalhadores em lados opostos, que se encontraram em um ponto central. “Em termos de engenharia, o mais interessante dessa obra foi como os dois grupos se encontraram exatamente e como foi possível levar ar para eles debaixo da terra”, diz o geólogo Amos Frumkin, da Universidade de Jerusalém.
Agora, a controvérsia chegou ao fim. Os cientistas realizaram testes de radiometria e com carbono radioativo para datar minerais, como cal, cinzas e ossos fossilizados, e materiais orgânicos, como plantas, encontradas nas paredes, no teto e no assoalho do túnel. O resultado não deixa a menor dúvida. “O texto bíblico, nesse caso, é um registro histórico exato da construção do túnel de Siloé”, afirma Frumkin.
O túnel é um longo corte que estende-se por 533 metros, dentro da proteção das muralhas da cidade, e usando diferenças entre cada extremidade, água tem chega a uma altura media de 30 cm (0.6%) ao longo de seu comprimento da fonte até ao reservatório de Siloé. De acordo com a Inscrição de Siloé encontrada dentro dele, o túnel foi escavado por duas equipes, cada uma começando por cada extremidade do túnel e encontrando-se então no meio.
Segundo Dan Gill, do Instituto de Pesquisas Geológicas de Israel[4], os construtores alargaram canais naturais que atravessavam a rocha onde haviam rachaduras ou onde haviam diferentes camadas juntas. Com o tempo, esses canais se alargaram bastante, o que explica o motivo da altura do túnel variar em até 5 metros, e como os trabalhadores, usando lâmpadas a óleo, podiam respirar. sua habilidade pode ser observada, no êxito da escavação com um declive suave de apenas 31,5 centímetros em todo o túnel.
A Inscrição de Siloé retirada da parede do Túnel de Siloé
- Na passagem da inscrição lê-se:
“E esta foi a maneira em que foi perfurado: — Enquanto [. . .] ainda (havia) [. . .] machado(s), cada homem em direção ao seu companheiro, e quando ainda faltavam três côvados para serem perfurados, [ouviu-se] a voz dum homem chamando seu companheiro, pois havia uma sobreposição na rocha à direita [e à esquerda]. E quando o túnel foi aberto, os cavouqueiros cortaram (a rocha), cada homem em direção ao seu companheiro, machado contra machado; e a água fluiu da fonte em direção ao reservatório por 1.200 côvados, e a altura da rocha acima da(s) cabeça(s) dos cavouqueiros era de 100 côvados.” [5]
Esta inscrição registra a construção do túnel; de acordo com o texto, o trabalho começou em ambas as extremidades simultaneamente e prosseguiu até que os construtores se encontraram no meio.
O Reservatório de Siloé que recebia águas do Tunel de Ezequias
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